A resistência bacteriana ocorre quando bactérias passam a resistir aos antibióticos que antes as eliminavam. Gustavo Khattar de Godoy, médico radiologista, explica que esse fenômeno não é novo, mas tem se intensificado de forma alarmante nas últimas décadas, tornando-se uma das maiores ameaças à saúde pública no século XXI.
Doenças antes tratáveis com medicamentos simples passaram a demandar terapias mais caras, longas e menos eficazes — ou, em casos extremos, tornaram-se intratáveis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já classificou a resistência antimicrobiana como uma crise iminente que pode causar milhões de mortes anuais até 2050, caso medidas drásticas não sejam adotadas globalmente.
Como o uso excessivo e inadequado de antibióticos contribui para esse cenário?
O uso indiscriminado de antibióticos é um dos principais catalisadores da resistência bacteriana. Em muitos países, antibióticos ainda são vendidos sem receita médica, o que facilita a automedicação e o uso desnecessário. Além disso, mesmo quando prescritos, muitas vezes os medicamentos são utilizados de forma inadequada — em doses erradas, por tempo insuficiente ou para tratar infecções virais, nas quais não têm qualquer efeito.

Segundo o doutor Gustavo Khattar de Godoy, esse mau uso cria um ambiente propício para que as bactérias mais resistentes sobrevivam, se multipliquem e passem essa resistência adiante. A cadeia de consequências é silenciosa, mas devastadora: cada vez mais infecções comuns deixam de responder aos tratamentos convencionais.
O uso de antibióticos na pecuária também contribui para a resistência?
Sim, e de forma significativa. Na pecuária industrial, o uso de antibióticos não se limita ao tratamento de doenças, mas também é aplicado como promotor de crescimento e prevenção preventiva em animais saudáveis — uma prática amplamente questionada. Isso favorece o surgimento de bactérias resistentes no ambiente rural, que podem ser transferidas para humanos por meio da cadeia alimentar, da água ou do contato direto com animais.
De acordo com o Dr. Gustavo Khattar de Godoy, muitos países já vêm adotando restrições severas ao uso de antibióticos na agropecuária, mas ainda há um longo caminho pela frente, especialmente em nações em desenvolvimento. A resistência bacteriana, afinal, não respeita fronteiras — e precisa ser combatida em todos os setores.
Como a sociedade pode contribuir para o uso racional de antibióticos?
Com o avanço da resistência, a busca por alternativas aos antibióticos tradicionais tornou-se uma prioridade na pesquisa médica. Entre as possibilidades estão as terapias com bacteriófagos — vírus que infectam e destroem bactérias específicas —, já usadas com sucesso em alguns casos clínicos na Europa Oriental. Outra linha promissora é o desenvolvimento de peptídeos antimicrobianos e terapias baseadas em nanotecnologia, capazes de atacar as bactérias de forma mais precisa.
A conscientização da população é uma peça-chave nesse quebra-cabeça, pontua o médico Gustavo Khattar de Godoy. É fundamental que as pessoas compreendam que antibióticos não são analgésicos nem curam gripes ou resfriados. Seguir a prescrição médica à risca, não guardar sobras de medicamentos para uso futuro e nunca compartilhar antibióticos com outras pessoas são atitudes que fazem a diferença.
Estamos preparados para um futuro pós-antibióticos?
Em suma, a ideia de um mundo pós-antibióticos, onde simples infecções ou procedimentos rotineiros se tornem perigosos, parece cenário de ficção — mas está mais próxima da realidade do que imaginamos. Para o médico Gustavo Khattar de Godoy, sem investimentos maciços em pesquisa, regulamentação eficaz e conscientização global, poderemos testemunhar uma regressão perigosa nos avanços da medicina moderna. Enfrentar essa crise silenciosa exige urgência, inovação e, sobretudo, cooperação.
Autor: Viktor Kolosov