Já passa da meia-noite de sábado (18) quando os hóspedes começam a descer de seus apartamentos do Hotel Serrano Resort, um dos mais luxuosos de Gramado, na Serra do Rio Grande do Sul. É o último final de semana do Festival de Cinema, e a cidade está lotada de turistas e alguns famosos. Outros sobem a pé uma ladeira em direção ao centro de convenções, onde uma fila os espera. Nela, gente jovem, bonita e de classe média alta aguarda para entrar em uma das baladas mais VIPs da noite.
A cena é da Winter Festival, mas, sem os pormenores, descreveria quase uma dezena de outras festas espalhadas pela cidade. No inverno, alguns dos melhores clubes do Brasil migram para Gramado em busca de um público com alto poder aquisitivo, que não se importa em gastar pequenas fortunas por uma noite de diversão. Em algumas dessas baladas, os ingressos chegam a custar R$ 450. Não é para qualquer bolso.
Para entrar na balada do Serrano, os homens desembolsam de R$ 180 (1º lote de ingressos) a R$ 350 (3º lote). As meninas pagam bem menos, de R$ 60 a R$ 100. Outra opção é hospedar-se no hotel, o que dá direto a ingressos para as duas noites do evento. As diárias para quatro dias e três noites para duas pessoas na suíte master saem por R$ 7,9 mil, em acomodações equipadas com duas TVs a cabo, calefação, cama king size e hidromassagem. Outros pacotes oferecem ainda transporte aéreo, partindo de várias cidades do país.
Noite é movida a bebidas como champanhe,
Durante o final de semana, o hotel é transformado em um clube de luxo. A balada se espalha por 2,7 mil metros quadrados (700 deles só de pista), em áreas como piscina, restaurantes e lounge. A produção é da Frank Agency, uma empresa de eventos paulista. Do técnico eletricista a assessora de imprensa, todo o staff veio diretamente de São Paulo. A receita é a mesma de outras festas voltadas para o público A+: DJs renomados, aparelhagem de som moderna e imensos telões de LED.
Um corredor iluminado em tons de azul conduz os clientes até a área de circulação, onde um telão exibe animações e a marca de uma multinacional japonesa de eletrônicos patrocinadora da festa. Ali, o volume de som mais baixo permite conversas sem que seja necessário berrar ao pé do ouvido do interlocutor. Os sotaques se misturam. O público é formado por jovens de 25 a 40 anos vindos de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e outras partes do Brasil. São bem-sucedidos empresários, profissionais liberais ou herdeiros de famílias abastadas.
Por volta das 2h30, a festa começa a atingir o seu ápice. A pista de dança, um nível acima da área de circulação, está lotada. Foram vendidos 2 mil ingressos para cada noite, diz a organização. Transitar até o bar para pegar uma bebida exige paciência. Embalados pela mistura de vodca e energético, os afortunados dançam ao som do DJ Phonique, da Alemanha. Como ele, outros DJs tops, com passagens por clubes de Ibiza, Londres ou Florianópolis, comandam as pick ups ao longo das duas noites.
Tudo gira em torno delas
“É mais que uma balada, é uma experiência”, diz Humberto Sato, o China, DJ e também um dos sócios da produtora da festa. Pode até ser, mas a maioria está aqui por outros motivos. Para a balada ter sucesso, não bastam equipamentos de última geração e os melhores DJs do mundo. Se não tiver mulheres bonitas em abundância, os comentários do dia seguinte dirão que a noite estava péssima. Os promotores e donos de clubes sabem disso e, por isso, o preço dos ingressos para elas é mais baixo e, muitas vezes, a entrada é até facilitada.
Quantidade de beldades nas baladas
No Winter Festival, a quantidade de mulheres deslumbrantes impressiona. São loiras, morenas, ruivas, negras, para todos os gostos. Para qualquer direção que se olhe, lá está uma possível sósia da Adriana Lima, Alessandra Ambrósio ou Isabeli Fontana. “Caraca, mermão!”, exclama a um amigo um rapaz de 20 e poucos anos, com aparente sotaque carioca. Tem-se a impressão de estar em uma festa na mansão da Playboy, do multimilionário Hugh Hefner, rodeado de coelhinhas.
Apesar da temperatura amena e do vento gelado lá fora, a maioria delas desfila pelos ambientes com as pernas e as costas à mostra, além de decotes acentuados. Vestidos curtíssimos, minissaias e sapatos ou botas de salto agulha fazem parte do dress code. As poucas que usam calças adotam modelos justos, marcando as curvas do corpo, esculpidas por horas e horas de malhação em academias. Os homens vestem calças jeans, sapatos, tênis e camisas de grife. Têm cabelos curtos, raspados, ou topetinhos ao estilo mauricinho.
Os mais VIPs entre os VIPs
Ser bonito, descontraído e estar bem vestido ajuda no jogo de sedução. Mas há outras formas de atrair as barbies. “Quanto mais você consome, mais elas ficam em cima”, ensina um empresário paulista de 29 anos, que prefere não se identificar. Talvez isso explique a quantidade de garrafas de champanhe francês Perrier Jouët que de quando em quando cruzam a pista, com um vela pirotécnica espetada no topo. Cada uma custa R$ 400. Três saem por R$ 1 mil e 10, por R$ 3 mil.
Mesmo entre os VIPs, há uma certa divisão de classes. Os mais abastados pagam alguns bons mil reais por um dos 15 espaços de camarote instalados ao redor da pista de dança. O preço depende do tamanho. O acesso é controlado por um segurança na porta de cada um. Sem pulseirinha, não entra. E eles assistem a tudo dali, com amigos, a cerca de um metro do chão. Raramente descem. O champanhe, a vodca e o uísque são servidos em coolers ou baldes de gelo, por garçons que percorrem um corredor atrás de cada camarote.
Em um dos cantos da pista, fica o backstage. Para entrar ali, não basta ter dinheiro. O espaço foi reservado a convidados, como artistas, celebridades e ricaços. A pouca luz ajuda a preservar a privacidade de famosos. Nas duas noites, passaram pelo backstage os atores Wagner Santisteban e Ronny Kriwat (o Tomás de “Avenida Brasil”), as atrizes Maria Pinna, Mariana Molina e Tammy Di Calafiori, a modelo Barbara Evans, as gêmeas do nado sincronizado, Bia e Branca Feres, o jogador da seleção brasileira de vôlei Bruno e o empresário Felipe Simão, entre outros.
O relógio marca 4h da manhã de sábado. Ninguém arreda o pé da festa, prevista para encerrar com o sol já alto, às 8h. Dali, alguns irão direto para o seus quartos no hotel. Outros seguirão para casas ou para hotéis não menos luxuosos da serra gaúcha. Audis, BMWs, Mercedes-Benz, Minis e uma infinidade de utilitários esportivos aguardam seus donos estacionados nas ruas próximas, em meio a carros populares. No dia seguinte à balada, tudo o que os VIPs precisam fazer é descansar. À noite, tem mais.